O pai perdoa

Foto por Josh Willink em Pexels.com

Texto de W. Livingston Larned

Escute, filho: enquanto falo isso, você está deitado, dormindo, uma mãozinha enfiada debaixo do seu rosto, os cachinhos louros molhados de suor grudados na testa. Entrei sozinho e sorrateiramente no seu quarto. Há minutos estava sentado lendo meu jornal no escritório e fui assaltado por uma onda sufocante de remorsos.

Então, sentindo-me culpado, vim para ficar ao lado de sua cama. Andei pensando em algumas coisas, filho: tenho sido intransigente com você. Na hora que se trocava para ir a escola, ralhei com você por não enxugar direito o rosto. Chamei sua atenção por não ter limpado os sapatos. Gritei por ter deixado alguns de seus pertences no chão.

Durante o café da manhã, também impliquei com algumas coisas. Você derramou o café da xícara. Não mastigou a comida. Pôs o cotovelo sobre a mesa. Passou manteiga demais no pão. E quando começou a brincar e eu estava saindo para pegar o trem, você se virou, abanou a mão e disse “Tchau, papai!” e, franzindo a testa, em resposta eu lhe disse: “Endireite esses ombros!”.

De tardinha, tudo recomeçou. Voltei e quando cheguei perto de casa vi-o ajoelhado, jogando bolinha de gude. Suas meias estavam rasgadas. Humilhei-o diante de seus amiguinhos fazendo-o entrar em casa na minha frente. “As meias são caras – se você as comprasse tomaria mais cuidado com elas!” Imagine isso, filho, dito por um pai!

Mais tarde, enquanto eu lia no escritório, lembra-se de como me procurou, timidamente, uma espécie de mágoa impressa nos seus olhos? Quando afastei meu olhar do jornal, irritado com a interrupção, você parou à porta: “O que é que você quer?”, perguntei, implacável. Você não disse nada, mais correu num ímpeto na minha direção, enlaçou meu pescoço e me beijou; seus braços foram se apertando com uma afeição pura que Deus faz crescer em seu coração e que nenhuma indiferença consegue extirpar. A seguir retirou-se, subindo correndo a escada.

Bom, meu filho, não passou muito tempo e meus dedos se afrouxaram, o jornal correu por entre eles e um medo terrível e nauseante tomou conta de mim. O hábito de ficar achando erros, de fazer reprimendas – era essa a maneira que eu o venho recompensando por ser criança. Não que eu não o ame; o fato é que espero demais da juventude. E o avalio pelos padrões da minha própria vida. E há tanto de bom, de belo e de verdadeiro no seu caráter. Seu coraçãozinho é tão grande quanto o sol que sobe por detrás das colinas. E isto eu percebi pelo seu gesto espontâneo de correr e de dar-me um beijo de boa-noite.

Nada mais me importa nesta noite, filho. Entrei na penumbra do seu quarto e ajoelhei-me ao lado de sua cama, envergonhado! É uma expiação inútil; sei que se você estivesse acordado não compreenderia essas coisas. Mas amanhã eu serei um pai de verdade! Serei seu amigo, sofrerei quando você sofrer, rirei quando você rir. Morderei a língua quando palavras impacientes saírem da minha boca. Direi e repetirei para mim mesmo, como num ritual: “Ele é apenas um menino – um menininho!”. Temo que o tenha considerado até aqui como homem feito. Mas, olhando-o agora, filho, encolhido e aconchegado no seu ninho, certifico-me de que é ainda um bebê. Ainda ontem esteve nos braços de sua mãe, a cabeça deitada no ombro dela. Exigi muito de você, exigi muito.

Sugestão de Leitura

O amor que dá a vida – Kimberly Hahn

A gift to my children – Jim Rogers

Abrace seu filho – Thiago Queiroz

Processando…
Sucesso! Você está na lista.

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