O pé de amora

Foto por Thierry Fillieul em Pexels.com

Quando me encontrei aqui, ainda não haviam árvores. O bairro acabara de ser loteado, e com isso, as árvores que existiam onde as casas seriam construídas foram derrubadas. Com o passar dos anos, os moradores começaram a plantar árvores em frente às suas casas. E aqui, comigo, não foi diferente.

Meu dono sempre levava os filhos pequenos para passear, caminhar, aos finais de semana, ou a tardezinha, naqueles dias de verão que o sol demora mais para ir dormir.

Os meninos sempre voltavam todos sujos de amora. Duas ruas atrás de onde a gente morava, tinha um pé de amora frondoso, não tão alto, mas que vivia carregado. E como ele não era tão alto, deixava que se pegassem todas as amoras, até mesmo aquelas mais doces e graúdas, que ficavam no alto da copa. E os meninos adoravam, se deliciaram com as amoras. Enquanto houvesse frutinhas pretas no pé, eles não paravam de comer. Comiam e riam, assim como meu dono, que ria por ver o riso dos filhos. Era um momento sagrado, aqueles risos de bocas sujas de amoras.

Foi aí que ele decidiu plantar uma amoreira na minha frente, na minha calçada.

Não apenas para que os meninos pudessem comer mais amoras, enquanto brincavam na calçada, mas também para que outros filhos, de outras pessoas, pudessem dar risos com as bocas sujas de amora comida no pé.

E foi assim que o bairro frutificou, com cada vizinho plantando uma árvore frutífera na frente da sua casa. Além das amoras, se viam pitangas, acerolas. Na praça aqui perto, tinha uma grande mangueira.

É curioso como os diferentes tipos de pessoas reagem ao pé de amora na época que ele produz seus deliciosos frutos.

As crianças adoram. Apanham e comem o máximo possível de amoras, até subindo na árvore para apanhar os frutos, se precisar.

Enquanto isso, os homens, seus pais, evitam ao máximo aproveitar a sombra da amoreira para estacionar seus carros, mesmo com o forte calor que faz por aqui na época de frutificação. Eles fazem isso para evitar que seus carros fiquem sujos das amoras que amadurecem e caem do pé antes das crianças conseguirem apanhá-los.

Por último, as donas de casa ficam horrorizadas com a “sujeira” que as amoras maduras fazem na calçada, manchando o piso de tons de roxo e vermelho, já que quase sempre elas explodem ao tocar o solo e encerrar sua queda.

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