Que ninguém nos ouça

Saudações, leitores e leitoras!

Hoje trago os destaques da minha leitura do livro Que ninguém nos ouça. Ele estava lá, esquecido no meu Prime Reading, e decidi dar uma chance para essa leitura. Seguem os destaques que fiz:

A natureza não me impediu de ter filhos, não me interditou, não foi cúmplice do meu medo. E foi medo, mesmo, o que me moveu – ou paralisou. Medo de ser a mãe depressiva. De não saber isolar minha tristeza e deixar que ela perambulasse pela casa, se instalando nos berços, nas caixas de brinquedos, no olhar ainda incerto de quem teria de aprender comigo a sorrir.

Essa agenda social das famílias, esses sorrisos que só carrega quem procria, tudo isso que eu avistava de longe agora está registrado no meu notebook, no meu celular, pra me lembrar diariamente de que eu fiz a escolha errada. Porque eu poderia ser a rainha da fluoxetina e, ainda assim, ser uma boa mãe, Cris. Pena que eu só entendi isso quando já não dava mais tempo.

E cuidado pra não se apaixonar por você. A gente se mima demais nessas fases de autoenamoramento. Depois põe defeito em todo homem que aparece…

Engraçado como escrever é um remédio para a dor de não dar conta.

E como a dor do outro, às vezes, traz o remédio para a nossa própria dor. Feito soro antiofídico, o antídoto é a própria dor, dissolvida em palavras bem escolhidas. O sentimento transborda o coração e cai no papel como cera de vela, logo secando para ali ficar. É bonito poder coordenar vinte e poucas letras e expressar tanto. Não consigo imaginar minha vida sem escrever.

E então entendi que a principal diferença entre a tragédia e a comédia é o distanciamento que a gente tem do fato.

Fim de ano não dá refresco. Ou a gente põe o choro em dia ou não recomeça como se pretende e quer.

Tudo cumpre ciclos. O dia se transforma em noite, a primavera e o verão dão lugar ao outono e ao inverno, as marés se alternam… Tudo na natureza abre espaço para as pausas. Mas a gente tem se esquecido disso. Vivemos sem intervalos.

Nada brota no solo estéril do medo.

Um não para os outros é o sim que pode estar faltando para si mesma.

A juventude às vezes se manifesta como enfermidade. Uma doença que só o tempo cura.

O sempre e o nunca são palavras perigosas, você não acha? Convém evitá-las. Devagar com as certezas, que eu quero passar com as minhas dúvidas!

“A velhice traz sabedoria”, dizem. Mas a gente precisa de sabedoria mesmo é na juventude, quando a vida é um teste de múltipla escolha com mais de uma opção certa para cada pergunta.

Acho melancólico viver num mundo onde a velhíssima máxima do “tratar o outro como você gostaria de ser tratado” está deixando de existir. Onde chefes humilham; colegas não se cumprimentam, não pedem “por favor”, não agradecem; vizinhos fazem barulho e não estão nem aí; pais param em filas duplas; motoristas fecham uns aos outros; pessoas falam ao celular no cinema, tiram os sapatos nas salas de embarque, furam filas ou deixam os filhos correr e gritar em restaurantes, atropelando os garçons e o bom senso; vendedores não cumprimentam os clientes (e vice-versa); namorados terminam relacionamentos por e-mail ou simplesmente desaparecem; jovens tratam os mais velhos com descaso, os pais com prepotência e os professores com desrespeito. Tem alguma coisa muito errada nisso tudo.

Agora os mineiros aderiram à moda. Claro, porque ninguém come. Ninguém aceita nada por medo de engordar. Oferecer café com bolo pra quê? Com isso, o mundo vai ficando cada vez mais sem graça e nossos paladares cada vez mais tristes.

Nada me tira da cabeça, Cris, que metade das mulheres que está se tratando de depressão na verdade está é com fome. Muita fome. Antiga, acumulada, crônica. Se os psiquiatras começarem a prescrever arroz, batata, picanha, lasanha, queijos fantásticos, molhos bem temperados, pratos que dão sustança (voltando aos antigos) e sobremesas, garanto que muitas mulheres vão se livrar da tarja preta.

“Tenho de…”, “Tenho de…”, “Tenho de…”. A gente não consegue passar um dia sem dizer “tenho de” várias vezes. Estamos em dívida permanente. Nosso saldo é sempre insuficiente e a sensação é que, a qualquer hora, o banco vai encerrar nossa conta.

“A vida é cinza e sem graça. É melhor se divertir na hora de vestir e assim divertir os outros também”,

Enquanto bebia café, beber café era o que ele fazia. Enquanto cozinhava, cozinhar. Não era quase, era inteiro. Não era qualquer. Era presente. Não era abraço, era eterno. Não era de novo, era sempre diferente.

“Todos queremos que as coisas permaneçam iguais. Vivemos infelizes, com medo que uma mudança estrague tudo”,

Mas vou citar o que talvez seja a conclusão central: bons relacionamentos (ou relacionamentos de qualidade) aumentam (muito) as chances de se ter saúde e uma vida mais longa e mais feliz. Quem tem bons amigos ou se relaciona bem com pessoas da família e da comunidade cria uma espécie de rede de amparo emocional, que é essencial para a saúde e até para a longevidade.

Amizade é relação nobre que não se alimenta de presenças. Pede apenas amor sincero e altruísta. Não há posse, ciúme ou insegurança. Fazer um amigo feliz é ser feliz também.

Pensando bem, Leila, o que os amantes de uma vida inteira podem se tornar ao longo dos anos? Grandes e melhores amigos. O tempo leva gradativamente a vitalidade, o apetite sexual, a agilidade de movimentos, a força. E o que restará de mais rico a duas pessoas que se amam muito é um intenso diálogo amoroso. A velhice não leva a capacidade de se dar as mãos, e ser amigo é ter a mão do outro como extensão da nossa.

O livro está disponível na Amazon, no link abaixo:

Um abraço,

Marcelo.

Processando…
Sucesso! Você está na lista.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.