Escassez

Saudações, leitores e leitoras!

Sexta-feira é o tradicional dia do livro aqui no blog, e o título de hoje é Escassez, de Eldar Shafir e Sendhil Mullainathan.

O livro é muito, muito bom! Ele explica como a escassez de tempo, dinheiro e comida afeta nossa mente, alterando profundamente a forma como lidamos com as situações cotidianas. Jamais imaginei que a escassez pudesse capturar o cérebro desse jeito, mas me vi em várias passagens do livro. Faz todo o sentido. 

Leitura altamente recomendada, e é bem provável que fique no meu top 10 de livros de 2023.

Abaixo, alguns destaques que fiz durante a minha leitura do livro:

Quando o tempo é curto, você tira mais proveito dele, seja no trabalho ou no prazer. Chamamos isso de dividendo de foco, o resultado positivo da captura da mente pela escassez.

É difícil fingir escassez. O dividendo dela acontece por conta de sua imposição sobre nós, que capta nossa atenção em detrimento de todo o resto.

O poder de concentração é também o poder de excluir coisas. Em vez de dizer que a escassez nos faz “focar”, poderíamos facilmente dizer que a escassez nos leva a entrar no túnel: concentrar com determinação a atenção na administração da escassez presente.

Focar é positivo: a escassez foca nossa concentração no que parece importar mais no momento. Entrar no túnel, não: a escassez nos leva a entrar no túnel e negligenciar outras coisas, possivelmente mais importantes.

Esta é uma característica básica da mente: focar em algo inibe conceitos concorrentes. Inibição é o que acontece quando você se zanga com uma pessoa e fica mais difícil se lembrar de características boas dela: o foco nas características irritantes inibe as lembranças positivas.

Essas histórias ilustram uma hipótese central: como o foco na escassez é involuntário e como captura nossa atenção, ele impede nossa capacidade de focar em outras coisas. O executivo está tentando se concentrar no jogo de softbol da filha, mas a escassez o distrai. Mesmo quando tentamos fazer outra coisa, o túnel da escassez nos puxa. A escassez em uma área da vida significa que temos menos atenção, menos concentração, nas demais áreas.

Nosso estudo revelou que, para os pobres, o simples fato de suscitar preocupações monetárias corrói o desempenho cognitivo ainda mais do que ser privado de sono.

Há outras minúcias que poderíamos discutir. Mas o resultado final é claro. A própria pobreza taxa a mente. Mesmo sem um pesquisador por perto para nos lembrar da escassez, a pobreza reduz a inteligência fluida e o controle executivo. Voltando ao ponto onde começamos, isso sugere uma grande virada no debate sobre a capacidade cognitiva dos pobres. Nós argumentaríamos que os pobres têm, sim, uma capacidade produtiva menor do que aquela dos abastados. Isso acontece não por eles serem menos capazes, mas porque parte de suas mentes é capturada pela escassez.

Coerentes com esse resultado, pesquisas sobre dietas de adultos mais velhos verificaram que aqueles que se sentem solitários na vida diária têm um consumo substancialmente maior de alimentos gordurosos.

Pensamentos como “será que devo me arriscar a atrasar de novo o pagamento do cartão de crédito?” podem soar tão alto quanto um trem passando.

Ao contrário do ideal de Milton Friedman da “liberdade para escolher”, a folga nos deixa com liberdade para não escolher.

A escassez não nos dá apenas menos espaço para falhar; também nos dá mais chances de falhar.

Como observou Henry David Thoreau: “Um homem é rico na proporção do número de coisas das quais pode abrir mão.”

Esses estudos corroboram nossa hipótese mais geral sobre o mundo: o motivo pelo qual os pobres fazem empréstimos é a própria pobreza. Não há necessidade alguma de recorrer à miopia ou à inaptidão para finanças a fim de explicar.

Escapar da armadilha da escassez não exige apenas um ato de vigilância ocasional. Exige vigilância constante, perpétua; é preciso resistir a quase todas as tentações quase o tempo todo.

Décadas de pesquisas mostram que mesmo — ou melhor, principalmente — nas melhores épocas tendemos à procrastinação, a um foco exagerado no presente e a surtos de impreciso otimismo. Adiamos trabalhos que precisam ser feitos. Desperdiçamos dinheiro que deveria ser economizado. Utilizamos mal nossa abundância, poupando e realizando muito pouco, o suficiente para afastar a escassez que poderia surgir.

Pense no quanto isso é impressionante. Décadas de pesquisas médicas tornam uma doença debilitante e mortal administrável. Mas fracassamos na última etapa, no passo mais simples: tomar um comprimido ou uma injeção. Essa última etapa afeta grande parte da medicina.

Uma conquista médica notável após a outra tropeça na não adesão, essa excentricidade do comportamento humano.

Nossos dados sugerem que a causalidade vai, de maneira no mínimo igualmente forte, na outra direção: que a pobreza, a mentalidade da escassez, causa o fracasso.

Ser um bom pai exige muitas coisas. Mas requer, sobretudo, a cabeça livre.

Os aviões são muito mais seguros hoje em dia, e não apenas porque fabricamos asas ou motores melhores, mas porque passamos a lidar melhor com os erros humanos.

A lição é clara: economizar na largura de banda pode produzir retornos mais elevados.

Deixamos de criar folga porque focamos no que precisa ser feito no momento e não pensamos o suficiente em tudo que pode surgir no futuro.

O trabalhador eficiente não será encontrado enchendo seu dia de trabalho, mas passeando pelas tarefas, envolto por uma atmosfera de tranquilidade e lazer. 

Depois que você entende a cronologia da largura de banda, pode marcar no calendário as semanas em que encontrará as pessoas ouvindo e absorvendo e as semanas em que encontrará as mentes divagando.

Quando a economia entra em recessão financeira, podemos comprar menos coisas. Quando entramos em recessão cognitiva, todos os aspectos de nossa vida podem ser afetados, dos cuidados parentais e exercícios físicos à conta-poupança e o divórcio.

O livro pode ser comprado na Amazon, no link abaixo. Eu li de graça usando minha assinatura do Kindle Unlimited:

ESCASSEZ – Eldar Shafir e Sendhil Mullainathan

E você, já leu este livro? O que achou dele?

Um abraço,

Marcelo.

Processando…
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